Sophie Abraham, artista visual especializada em vídeo, fotografia, desenho e cartografia, e Anthony Pillette, professor de arte digital na Escola de Belas Artes de Marselha, propõem ao público uma experiência sensorial e criativa. Membros da associação Reso-nance Numérique, com sede em Marselha (França), os dois artistas realizam regularmente exposições internacionais, tanto em dupla quanto individualmente. Paralelamente, também desenvolvem projetos artísticos e educativos em escolas e museus.

https://reso-nance.org/

TRABALHOS DE PESQUISA - EAT THE LANDSCAPE

Os artistas percorreram as ilhas do triângulo numa pesquisa de terreno e recolha de imagens sobre o tema da agricultura de subsistência e arquitectura, usando arte digital e técnicas de fotografia antigas, em busca duma visão única e inovadora sobre a paisagem e a relação humana com o ambiente natural. Com este projecto, pretendem falar da possibilidade de existir uma convivência mais harmoniosa entre o ser humano e a natureza no seguimento do trabalho desenvolvido anteriormente intitulado Cabanes du Futur.

https://www.instagram.com/cabanes_du_futur/

Os artistas centram-se em questões sociais e ambientais contemporâneas, com um olhar atento para os territórios específicos, como as ilhas, e suas dinâmicas únicas. Através da combinação de processos fotográficos tradicionais, como a antotipia e a cianotipia, juntamente com tecnologias digitais, os artistas exploram a coexistência de humanos, natureza e máquinas num futuro hipotético.

O duo de artistas franceses, trabalham temas como a resiliência da natureza, a exploração de recursos naturais, a produção de energia e o impacto do turismo de massa no território insular sempre num contexto contemporâneo marcado pelas alterações climáticas e a globalização.

EAT THE LANDSCAPE pretende refletir sobre a ambivalência entre progresso e tradição: Como podemos nos alimentar de forma sustentável, num território específico como a ilha, respeitando a natureza e procurando a auto-suficiência?

O objetivo do projeto é abrir uma reflexão colectiva sobre a evolução dos estilos de vida, com ênfase em práticas nutritivas e sustentáveis, como a agricultura e a jardinagem camponesas, que se apresentam como uma utopia e modelo para o futuro.

Numa pesquisa de terreno pelas ilhas do triangûlo, os artistas procuram criar um repertório de gestos, tanto tradicionais quanto inovadores ligados à industrialização ou novas soluções de baixa tecnologia e, através de impressão de imagens digitais modificadas por software de IA e de processos alternativos antigos como a cianotipia, traduzir a intenção de imaginar futuros possíveis, utópicos ou distópicos, em que a ilha se torna um refúgio auto-suficiente, ancorado na sua profunda ligação à natureza e às paisagens que a caracterizam.

APRESENTAÇÃO DO PROCESSO CRIATIVO - EAT THE LANDSCAPE

Num evento aberto ao público, os artistas partilharam todo o processo criativo numa oficina seguida duma conversa com a comunidade.

A partir de uma abordagem que junta técnicas digitais e tradicionais, como a IA e a cianotipia, os participantes são guiados a imaginar habitats sustentáveis, inspirados pela época em que os Açores viviam quase exclusivamente da agricultura local, com mínimas importações.

Utilizando fotografias de construções e de paisagens das ilhas, os participantes editaram imagens com a ajuda da inteligência artificial, integrando formas arquitetônicas com elementos naturais, como jardins e plantas, criando projetos inovadores que visam atingir uma vida autossuficiente.

Após a criação das imagens digitais, foi iniciada a fase de impressão em cianotipia, uma das primeiras técnicas fotográficas, que utiliza um processo químico para gerar impressões de um azul profundo, conhecido como azul da Prússia. A cianotipia, com seu toque poético, foi também uma ferramenta histórica na arquitetura, utilizada para duplicar planos de construção, e agora é reapropriada para a criação de novas imagens que ligam passado e futuro.

Ao longo desta oficina, os participantes tiveram a oportunidade de trabalhar coletivamente para criar uma visão utópica que reconecte a arquitetura e a agricultura local. A oficina também serve como um espaço de aprendizagem sobre as diferentes fases da fotografia, desde suas origens até os avanços tecnológicos contemporâneos. Além disso, foi possível explorar o património arquitetónico e ambiental dos Açores, com a identificação de figuras, linhas e desenhos geométricos que surgem nas paisagens locais, oferecendo novas perspectivas sobre a cultura e a história da região.

Durante o processo, as imagens são manipuladas, criando formas geométricas modulares a partir de fotografias antigas e atuais da ilha. A montagem analógica, com cortes manuais e edições em negativos, deu lugar à criação digital, onde os participantes utilizaram programas como Scribus ou InDesign para compor suas ideias. A inteligência artificial será introduzida como uma ferramenta criativa, estimulando novas possibilidades de design, enquanto se respeitam as diretrizes éticas para evitar estereótipos.

Ao final da oficina, as criações foram impressas em negativos e, seguindo todos os passos da cianotipia, serão solarizadas sobre papel fotossensível, resultando em imagens únicas que capturam tanto o espírito da tradição quanto a inovação tecnológica.

OFICINA PÚBLICA - EAT THE LANDSCAPE

Atelier Cianotipia & IA onde os artistas convidam os participantes a juntar criatividade e tecnologia numa exploração artística na qual arquitetura e jardins nutritivos se encontram para dar vida a composições imaginárias proporcionando, assim, uma experiência única, que não só explora a conexão entre arquitetura, natureza e sustentabilidade, mas também oferece uma reflexão profunda sobre o papel da arte na construção de um futuro mais equilibrado e autossuficiente.