Os artistas italianos Milena Berta e Alessandro Pedretti, que compõe o duo MOLOM , estiveram em residência artística todo o mês de Outubro com o projeto "Of Matters and Frequencies" (OMAF part.1)
OMAF é uma experiência sonora e de investigação para explorar temas como a melhoria da percepção ambiental de uma forma multissensorial, encontrando terreno fértil nas ilhas dos Açores.
Os artistas percorrem as ilhas do triângulo munidos de microfones ultra sensíveis à procura de registar as sonoridades e recolher amostras de natureza para criar uma peça sonora com materiais e frequências que resultou na performance ao vivo "SILÊNCIO VULCÂNICO".
Milena, escultora de pedra com formação nos Belas Artes de Milano, nascida e criada no Valle Camonica, o primeiro sítio da UNESCO a ser reconhecido pelas gravuras rupestres, tem o desejo de continuar com a experiência adquirida através de projectos de valorização territorial (La memoria delle pietre, S/TONES, Eco del Silenzio) e explorar uma nova tipologia de pedra, centrando-se no conceito de importância da matriz e dos fragmentos resultantes como novo material artístico.
Alessandro, músico e compositor, concentra-se na manipulação de sons e na elaboração da composição criando texturas sonoras granulares e etéreas usando efeitos de áudio e processos de produção de música digital (Hologram Microcosm, Roland Sp404mk2, Polyend Tracker, Empress Zoia) e analógica (gravadores de fita para loops de fita), bem como usa fragmentos de cinzel amostras, ressonâncias de metal e lascas de pedra para criar micro-cristalinos e prismáticos.
“MOLOM”, junto o som e a materia. Enquanto Milena trabalha a pedra gerando uma grande variedade de sons (como o ruído de cinzéis, pedaços de mármore que se desprendem do bloco bruto e martelos que batem) Alessandro grava através de microfones e de uma mesa de som equipada. Esta riqueza sonora (in)harmónica é processada em tempo real e toma a forma de uma composição extemporânea numa tonalidade contemporânea.
Apresentação pública do resultado final da residência da dupla MOLOM
SILÊNCIO VULCÂNICO é uma exploração sonora e gestual que nasce da interação profunda entre o som, a matéria e a paisagem em constante mutação das ilhas dos Açores. Rochas vulcânicas, areia negra, oceano, grutas esculpidas por fluxos de lava e as ruínas dos faróis - símbolos de um mundo que oscila entre a destruição e o renascimento - tornam-se os elementos-chave de uma narrativa que explora o potencial meditativo e transformador da natureza.
Utilizando microfones de contacto em pedras e cinza vulcânica, processado por dispositivos electrónicos e software digitais, a performance desenvolve-se num fluxo contínuo de som e gesto. As acções dos performers, captadas pelos microfones, geram um diálogo sonoro entre a matéria e as gravações recolhidas durante a residência artística na Avista Vulcão em Outubro de 2024.
O som do oceano e o movimento de água, reproduzidas e retrabalhadas em tempo real, intensificam a perceção de uma natureza em constante evolução, num ritual de transformação e reconstrução. Como um marinheiro solitário que escuta o mundo a partir do oceano, o espetador é convidado a mergulhar num estado de contemplação, onde a descoberta da paisagem se torna o ponto central."
Trabalho de criação no estúdio da AVISTAVULCÃO
Elementos do processo criativo e equipamento sonoro dos MOLOM
A componente sonora, Milena trouxe uma nova camada artística ao projeto, enriquecendo a experiência do público. A artista, formada em Belas-Artes, criou um conjunto de ilustrações inspiradas na paisagem dos Açores, que deram origem a uma pequena publicação de caráter artesanal.
Este livrinho, impresso em serigrafia e cuidadosamente elaborado à mão, reflete a sensibilidade do olhar artístico sobre o território e convida à contemplação da natureza e da memória local.
Como forma de partilha e valorização desta criação, o livro foi oferecido a todos os espectadores presentes no concerto, reforçando a ligação entre arte, paisagem e comunidade.
No âmbito da sua residência artística, os artistas dinamizaram uma oficina de experimentação sonora com os alunos da Escola Básica do Capelo, promovendo uma experiência educativa e sensorial profundamente envolvente.
A atividade teve início com uma performance ao vivo, durante a qual os artistas apresentaram uma composição sonora original criada a partir de instrumentos não convencionais, objetos do quotidiano e materiais naturais recolhidos no território. Este momento performativo despertou o interesse e a curiosidade das crianças, que foram convidadas a escutar atentamente os sons e a imaginar possíveis significados, paisagens ou emoções evocadas.
Após a apresentação, seguiu-se uma fase prática e interativa. As crianças tiveram a oportunidade de experimentar livremente os instrumentos e os materiais utilizados, explorando diferentes formas de produzir som. Em colaboração com os artistas, foram desafiadas a criar composições espontâneas, combinando ritmos, texturas e ruídos de forma intuitiva e criativa.
A oficina promoveu o desenvolvimento da escuta ativa, da expressão individual e do trabalho em grupo, ao mesmo tempo que introduziu os alunos no universo da arte sonora e da criação contemporânea. Foi um momento de aprendizagem lúdica, onde o jogo, a imaginação e o som se cruzaram para proporcionar uma vivência artística acessível e transformadora.
Esta ação teve um impacto muito positivo junto da comunidade escolar, reforçando a importância de levar experiências artísticas inovadoras às escolas e de criar pontes entre artistas, território e educação.