Residência Artista Local Emergente – 1.ª Edição
A primeira edição de residência de apoio à criação, destinada a artistas locais emergentes, teve como objetivo promover e apoiar a produção artística contemporânea no contexto do território faialense. Este programa visa criar oportunidades concretas para que jovens artistas possam desenvolver os seus projetos em ambiente de investigação, experimentação e partilha com a comunidade.
O artista selecionado para esta edição foi André Carreiro Oliveira, natural da freguesia da Ribeirinha, no Faial, e estudante da Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa. Durante o mês de dezembro de 2024, André esteve em residência artística na Casa da Missão, no Capelo, onde desenvolveu e produziu a sua primeira exposição individual pública, intitulada VERDADE MISTA.
A exposição resultante — composta por instalação, vídeo e escultura — refletiu uma abordagem autoral e experimental, articulando questões de identidade, memória e materialidade a partir do território e da experiência pessoal do artista. A mostra esteve patente por dois meses na sala de exposições da Biblioteca Pública e Arquivo Regional João José da Graça, na cidade da Horta.
A vernissage teve lugar em dezembro, marcando o início da exposição com a presença do artista e da comunidade local. A finissage, em fevereiro, assinalou o encerramento do ciclo com o lançamento do catálogo de artista, uma publicação que documenta o processo criativo, as obras apresentadas e inclui textos críticos que contextualizam o trabalho de André Carreiro Oliveira.
Esta residência marcou não só um momento importante no percurso do jovem artista, como também reafirma a importância de criar programas de apoio contínuo à criação artística nos Açores, valorizando os talentos emergentes e fortalecendo a ligação entre arte contemporânea e território.
André Carreiro Oliveira nasceu em 2001 na ilha do Faial, natural da freguesia da Ribeirinha. Na ilha, é na Escola Secundária Manuel de Arriaga que frequentou a turma de Artes Visuais completando depois o ensino secundário na escola técnica e artística e profissional "Árvore" na cidade do Porto, na qual aprofundou os seus interesses no video, serigrafia e design gráfico. De seguida passa um ano em Sevilha, Espanha, trabalhando em fotografia. Em 2023, volta a Portugal para entrar na Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa, na qual frequenta atualmente a licenciatura de Escultura.
Durante o ano 2024, nas Belas Artes e com apoio dos seus turores, o artista começou a preparar três peças escultóricas em chumbo fundido intituladas "3 Chorosas" e em Dezembro, já a partir do Capelo, no espaço da AvistaVulcão, completou a sua criação, com uma instalação site-specific "Tímpano" e "Assemblage" e um video-arte "Cova Negra" com ainda uma peça sonoplastica "Possível fase subaquática de um vulcão".
O trabalho é influenciado pela relação do artista entre o local onde nasceu, uma ilha marcada por vulcanismo, e o mundo fora da ilha, global e digital.
No seu trabalho escultórico "3 Chorosas" concretiza uma alquimia naturalista e altamente metafórica, pegando nas formas irregulares e únicas das bombas vulcânicas (gotas de lava, repletas de ar, expelidas pela boca do vulcão em erupção que em contacto com o solo, rolam na superfície ganhando assim uma forma arredondada) e replicando essas formas imprevisíveis da natureza com outros materiais pesados, numa fundição em chumbo maciço, material utilizado na segunda guerra mundial para fabricar as balas de canhão. Assim olha-se para os pecados do gesto humano, através dos gestos da natureza.
Na criação em video "Cova Negra" o gesto do artista transmuta-se, tornando-se ele próprio no alter-ego dum vulcão: da beleza do caos, do materialismo ao sonho, da viagem à permanência, da pedra concreta ao registo digital.
A criação da instalação site-specific "Tímpano" e "Assemblage" com a sonoplastica "Possível fase subaquática de um vulcão" convida o público a entrar no universo de artista tornando a exposição imersiva e sensorial.
Verdade Mista é uma travessia ao subconsciente do vulcão, alegoria de um olhar sobre o mundo.
FINISSAGE COM LANÇAMENTO DE CATÁLOGO VERDADE MISTA
Registo da vernissage da primeira exposição a solo do jovem artista açoriano André Carreiro Oliveira , intitulada Verdade Mista.
Para além da residência artística e da realização da sua primeira exposição individual, o artista André Carreiro Oliveira dinamizou duas atividades de mediação cultural junto da comunidade escolar da ilha do Faial, reforçando o caráter educativo e inclusivo do projeto.
No âmbito do Plano Nacional das Artes, André conduziu duas oficinas de artes plásticas com os alunos da Escola Básica Integrada da Horta (EBI Horta). Estas oficinas foram pensadas como momentos de experimentação e descoberta artística, onde os estudantes tiveram oportunidade de explorar diferentes materiais e técnicas plásticas, inspirando-se na prática e no percurso do artista. As sessões fomentaram a criatividade, a expressão individual e o pensamento crítico dos participantes, incentivando o contacto direto com processos de criação contemporânea.
Adicionalmente, o artista recebeu os alunos da Escola Profissional da Horta para uma visita orientada à exposição “Verdade Mista”, seguida de uma conversa aberta. Este encontro permitiu aos jovens conhecerem em profundidade o processo de conceção e montagem de uma exposição, bem como os temas abordados nas obras. A troca de ideias com o artista incentivou o diálogo sobre o papel da arte na sociedade, o percurso profissional nas artes visuais e as possibilidades criativas existentes no contexto local.
Estas ações reforçam o impacto da residência para além do espaço expositivo, contribuindo para a formação cultural dos mais jovens, aproximando-os da arte contemporânea e valorizando o talento emergente produzido na própria ilha.